BICHO ENCANTADO

Na enxurrada da vida
Ao exaltar dos pássaros
O ser viaja e encontra
No sincrônico lago da vida
A sua eterna viajem...

As canções eram ouvidas através das matas, com uma sonoridade acústica, que por mera coincidência, permaneciam nos ouvidos longínquos dos vales, naquele amanhecer.
Milhões de harpas tocavam ao mesmo tempo, d’onde também,pássaros coloridos riscavam o ar na sintonia com o despertar mágico das harpas longínquas.
Correu pelo meio da mata um anão em desespero anunciando : -“O grande deus dos ventos virá, virá! Aos trovões, aos anéis !”
As harpas ecoavam os mais belos sons reproduzidos pela brisa suave e amena. O anão avisou algumas borboletas que trilintavam no alvorecer, enquanto o negrume de ventos se aproximava. As harpas ficaram aflitas com o acontecimento inesperado.O grande deus tufão era anunciado pelo anão.As palmeiras tremulavam, tremulavam, enquanto a brisa soprava costumeira as suas canções, ecoando nas harpas, deixando-as densas e tranqüilas. Aquelas palmeiras envergavam nas veredas, e o vento chegou rufando sons estranhos ao longo do vale, que agora era cinzento e soturno. As harpas eram arrebatadas ao longe, e as canções varridas para sempre.Palmeiras lambiam o chão, que de tão espesso e amargo, rachavam-se ante o tufão. As veredas eram sofridas, e os campos amargurados pela bravura do hóspede rotineiro, que por aquelas pastagens permanecia. Houve um silêncio costumeiro, enquanto as harpas eram levantadas. Ouviu-se o anão dar um berro: -“Foi-se o golfar da retumba em mares bravios! Foi-se, foi-se Nostalgia! Ah! Os cantos..”. Depois; algumas harpas eram rosadas por uma brisa densa e mágica, que descia das veredas à contemplar aquelas harpas e aquelas palmeiras. Além de impulsionar o silêncio, e dar lugar as canções, que foram varridas... (4/2/80)

Talvez aquele olhar que me olhou, e que ao vê-me te fez. Talvez refletisse, os fenômenos internos de nossa mente subjetiva, a esses reflexos. O espelho consciente deve espelhar bondade.Ao olharem para ti, olham para si mesmas.Olham ao seu redor e percebem um mundo subjetivo, na qual vivemos. Olham para outras pessoas e vêem o reflexo de seu “eu”. É aquela consciência universal que temos do mundo. Um sentimento unitário de bondade e amor no coração.Harmonia e bondade são adubos á semente de amor que o homem guarda em seu coração.
É aquela chuvinha no campo de hortaliças e brotos.Aquele fertilizante faria da semente uma flor.Um despertar para a vida dentro de si..E aquela rosa que agora vejo, em meu coração aberto e florido, que despertou. De longe vem a abelha colher o pólen da bondade, que se abriu com a rosa do amor. A abelha se vai, vai e em outras rosas pousa, eternizando o amor. Depois volta ao seu mel, que seria tão doce,ao ver seu próprio reflexo no despertar de uma nova flor? Ou é o amor... (23/2/80)2h10










A sombra dos juncos, eu me via quieto, parado no tempo. Ao buscar algo constante, vi que estava só, perante os campos, que ao movimento dos ventos, dançavam sob a esfinge de múltiplas cabeças. Bailava o ar entorpecido, magoado, mas me fazia respirar.Sentia-me só, eu era um só perante o universo que desabrochava. Caí em plenitude...
Revela-se nas formas, um mágico lirismo imensurável na atmosfera, minha alma foi imersa em estado cósmico, as formas estilizavam-se uniforme á estranhas metamorfoses, foi evocado dos mundos a magia sob a forma de discos flutuantes...
Fui então, frouxamente imerso por uma névoa fulva, que se fez descer das nuvens. A penumbra então, foi envolvida pelos véus do simbolismo, enfim, tudo era significativo e ilusório, ao mesmo tempo em que se fundiam irreal e realismo, o espaço multiplicava as distâncias, e uma seqüência de infinitos planos, distendiam-se para imensidão, a partir do meu “eu”. Formou-se então um plano vertical sob a forma de uma estrada , quando me vi no centro de um deserto, observando os cactos com suas formas estilizadas.
O sol já se diluía no horizonte, e as fibras de nuvens de cúmulos cavalgavam densamente, sob partículas de luzes alaranjadas, e os pássaros, em silêncio, emergiram no horizonte.
Pus-me a caminhar pela estrada, o céu fechara suas cortinas, distendendo o lençol de estrelas. Chamuscavam, interditas, as que eram cadentes. Prossegui a longa caminhada que me aguardava, pela noite. Caminhava lentamente, com passos leves e curtos, prosseguindo no destino, sob a forma de uma estrada. Subia e descia elevações que se sobrepunham ao meu caminho, observava as pedras, os ramos secos encobertos pela areia, o rastejar das cobras, dos ratos, dos seres da noite, em fim; todo o cincronismo do universo, como pano de fundo, de um panorama espiritual... (Texto escrito em 79, em Santos, numa máquina de escrever da Olivett, azul, onde costumava escrever coisas, somente coisas...)



Na névoa que agora desceu,
uma bela fera tenta escapulir
do odor da dama, que o perfume
floresceu
impregnou o ar,
para na lua
diluir...

Nos tempos dos cristais
apareceu só, sobre
a arvore ...
Na noite de lua cheia
recolhe a flor
inspira sua flagrância
reconhece fielmente
e transcende o despertar.
E num canto, se faz seguro
a magia de um altar
persiste,no culto nobre
das flores...
Reconhece o leito sagrado
Onde dorme a esperança
Que pretendes levantar
da névoa doce
E brilhar no horizonte
com o sol....
(80)
Navegar

Do suspiro ao êxtase
O sêmen flui
Na nascente do rio
Estelar
Suas tormentas balançam
A jangada no cosmos
Mas ela vai
Perfeita
Nas estrelas
Ereta pelo ar
Desprende-se
Do vácuo
Perde-se
Na imensidão
Por onde passa
Esbarra
Na estrela
Pousa
Estabelece
Sua localização
Procura o espaço
Infinito espaço
Onde se perde
A jangada mágica
E o marujo no comando
A faz seguir
A tradição do navegador
Tal qual um cosmonauta
Estabelece seu ponto, um marco
Sim! O homem passou por aqui...
E seguiu seu caminho...
Viagem, que se perca no tempo
Mas me leve em algum lugar...
(79)





Na época deste poema, que acompanha um desenho, que aliás, surgiu primeiro, eu não assinava como Marcel céu, mas sim como Marcelo bruxo, e alguns só como Marcelo.







O sonho eterno

Num continente afastado
Sobre as colinas do amor
Jorra a cachoeira
Da felicidade...
Um ser
Dorme um sonho profundo
E ao acordar
Vai ver que
Mudou o mundo

Uma arvore de frutos
Sobre a cabana
No lago
Peixes à pular
Sobe pelas montanhas
A viajem vai começar
Neste mundo
Não sonha mais nada
Viverá eternamente
Seu sonho

Onde o sol se Poe
E a lua brilha
Para sempre

O homem sabe viver
Sua eterna juventude
Sentar na colina
Viajar por uma era
E quando voltar
Tudo será o mesmo
Sonho
E não terá que acordar...
(79)

Com seus braços em punho. Os pés reforçando. O homem fecha o cosmos com os tijolos dourados, erguendo assim, o muro da percepção.
Toco o hino para o fantástico!
E um mutante de asas á sangrar
Rasga a parede! Liberta o cosmos...
Sobre esse universo de pedras, o homem voa, com suas asas sangrando da luta, procura a cura nas estrelas, a esperança no sol, e um amor, só pode encontrar na lua.






Mágico dia

Na sua busca, o homem encontra o sol, cintilante e mágico.
Um sol que, ao iluminar todo o universo, ilumina também, cada ser e cada coração.
É mágico, assim como é mágico o tempo parar.
Num dia mágico tudo acontece
Fadas cintilam no ar
Duendes procuram cogumelos
E o ser mutante, voa sobre a lua
Se embebeda da grande magia
O céu muda de cor
Nuvens rosas
Flores azuis...

E essa lua
Esse sol
Esse pai
Essa mãe
A cor da gênesis
Fez florescer
A mais bela das flores
A natureza

A subir pelas montanhas
Encontro um castelo dourado
No céu, pássaros de fogo
Chamuscam as estrelas
No chão
Cercando o palácio de ouro
Aliados da noite
Protegem a lua,
Mística, de pureza púrpura!

Escorrem pingentes prateados
Brilhos mágicos que fazem lembrar
Que no mágico tempo, tenho asas
E vôo a mais alta montanha
E ver nascer o sol de lá
Pois é dia
E a mágica acabou...
(79)









Ser

Declaro o fim do ser
Do extermínio ao pó
Desse doce amanhecer
Nas nuvens do homem só

Do ser que caminha na luz
O despertar o faz lembrar
Com ardor a tudo conduz
Ao sentido puro de amar

E o ser volta a caminhar
Segue o que já é escrito
Continua o seu viajar
A se perder no infinito
(79)

Nuvem

Por entre os mares, cortam os pássaros de fogo, queimando o céu de vermelho.
Um ovo estala, cai uma gota esférica e cristalina.Um pequeno mundo gótico e místico.
Dentro dela, infinitos mundos a se espatifar no universo. Talvez o nosso?
Enraizada neste plano, nasce a palmeira sagrada desabrochando a lótus.
De longe vem o ser mutante e pousa. Come os frutos, e alguns, os leva, para plantar na planície.
Por sobre a palmeira busca o infinito. Carrega em sua mão, um instrumento lírico, que costuma tocar suavemente por entre as estrelas.
Prepara o seu vôo, a sua busca.
Derrete-se o universo, desfazendo-se o véu. Surgem os brilhos em pequenas gotas que riscam o universo banhando a cidade dos deuses.
Pequenos brilhos, somente, pequenos brilhos...
(79)

Esgarçados os véus de luz e sombra
Evaporada toda a bruma de tristeza
E tendo, como veleiro, singrado para longe
Todo o amanhecer de alegria transitória
Desvaneceu-se a turva miragem dos sentidos
Amor-ódio, saúde-enfermidade, vida-morte
A união, da dualidade, no sentido correto da unidade.










O ser emerge
Faz paralelo ... homem
Tateia o fogo ... sagrado
Pulveriza o céu ... de saudade
Outrora pisou nas estrelas
Por cometas deste céu
Paralelo do fogo
O homem pisoteou
Em si
Sangrou pelo ventre
Escorreu pelo chão
Ao ver a lua, hora...
Sentado na pedra, sorri...
Já que posso sentir a tudo
Porque o fogo
Deveras sagrado,
Se apaga
Para sempre...
(79)

Bicho Encantado

E uma estrela cai riscando o céu
Cortando galáxias
No encontro da esfera, ela explode
Seus grãos pulverizam a terra
Como uma nuvem regando
Jardins de tulipas azuis

E, colinas tornam-se mágicas
Dos troncos, duendes saem para o rito
E fadas tocam sinos dizendo:
“As portas estão abertas! O tempo parou!
Na magia, o que podemos fazer é brincar.
Brincar é a viagem, o instante...
Despertai ! Oh! Bicho encantado
Soltai um suspiro, um sussurro,
Solte a magia, oh! Ser
Deixa sua luz brilhar e renasça
Renasça e seja um verdadeiro
Bicho encantado...
(79)











Bicho Encantado









Marcelo Stoenescu
(Marcelo Bruxo)

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